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domingo, 20 de abril de 2014

A teologia do Cirío Pascal

Devemos partir do ponto fundamental que nos ajudará em nossa reflexão: O que é o Círio Pascal? O Círio é a magna vela que ocupará um lugar de destaque no lado direito (do presbitério para a entrada do templo)entre o altar e o ambão. Ele simboliza Jesus Cristo Ressurreto! Sua chama é retirada do fogo abençoado no meio da noite silenciosa do Sábado Santo. Uma vez que o pavio é aceso, seu fogo se torna em imagem de Jesus Cristo que disse: “Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12)

            A simbologia que envolve o Círio é muito profunda, pois nele estão gravados sinais que nos ligam ao Mistério da criação do Universo, o tempo atual em que vivemos e o seu fim último. Este Mistério é representado nos números do ano em curso e nas letras do alfabeto grego rasgados sobre ele. Sobre esta simbologia o presidente da celebração reza:

Cristo ontem e hoje; princípio e fim; alfa e ômega; a ele o tempo e a eternidade; a glória e o poder; pelos séculos em fim. Amém.

            Antes de acender o Círio são cravados nele cinco grãos de incenso que significam as cinco chagas de Nosso Senhor que ao ressuscitar permanece com as marcas da crucifixão, mostrando assim que o corpo sacrossanto que ele traz consigo é o mesmo que nasceu de Maria – carne de sua carne e sangue do seu sangue –, padeceu e foi sepultado no túmulo de José de Arimateia (Jo 18, 38) após a sua morte de cruz. Na imposição dos cravos o presidente da celebração reza:

Por suas santas chagas, suas chagas    gloriosas, o Cristo Senhor nos proteja e nos guarde. Amém.

            Na procissão que fazemos, todos os presentes acompanham o andar do Círio, com suas velas no fogo novo, significando assim, que todos nós somos novas criaturas, banhados pelo sangue que Jesus derramou no calvário e iluminados pelo mesmo Senhor que retoma o seu Corpo Glorioso.

            Para o Círio é cantado o hino triunfal do “Exultet”! Já completo com os cravos e aceso com as chamas do fogo santo, no Círio aparece o próprio Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; Senhor de todas as coisas criadas e incriadas; Rei poderoso que esmagou com os pés o Inimigo das almas! Dele sai as chamas que resplandece todo o recinto sagrado no fulgor de suas luminárias. É este o sinal que abre a Solenidade da Ressurreição, da vitória da Luz sobre as trevas.
           
           
Uma vez introduzido o Círio no seu lugar que deverá ser fixo até a última Santa Missa do dia de Pentecostes, só sairá do seu lugar de destaque para ser imergido por três vezes na água batismal que será abençoada na mesma celebração do fogo. Terminado este rito, o Círio volta para junto do Ambão que nos remontará ao significado do sepulcro vazio e Cristo Ressuscitado de pé proclamando o seu Evangelho.

             Com a solenidade de Pentecostes, fechar-se o Tempo da Páscoa, o Círio é apagado. Este sinal sagrado é retirado do lado do ambão significando assim: uma vez educados na Escola Pascal do mestre Ressuscitado e cheios do fogo dos dons do Espírito Santo, agora, devemos ser nós, “Luz de Cristo”. Esta “Luz”, obrigatoriamente, deve-se irradiar, como uma coluna luminosa que passa no mundo, em meio aos irmãos, para guia-los no êxodo em direção ao céu, rumo a “pátria prometida” que é o Céu.




Normas a serem obedecidas


            Grande reverência e dignidade devemos dar ao Círio no Tempo Pascal. Mas, não só neste tempo! Durante todo o ano litúrgico o respeito lhe é tributado por direito de norma. Bom seria que o mesmo pedestal em que ele ficou fixado junto ao ambão, fosse o mesmo que o guardasse junto a pia batismal, após Pentecostes, para ser aceso somente no momento em que é conferido os Sacramentos do Batismo aos catecúmenos e do Crisma (confirmação); ou na sacristia, como acontece em muitas catedrais e paróquias.

            Atenção! No Tempo Pascal o Círio deverá ser aceso sempre nas celebrações eucarísticas, celebrações dos sacramentos, exéquias e nas orações da Liturgia das Horas. Concluído o Tempo Pascal, o Círio só deve ser utilizado, única e exclusivamente,  nas celebrações dos Sacramentos do Batismo e Crisma. Fora estes ritos, só é permitido o seu uso quando se está celebrando Missas de Exéquias com a presença do corpo na igreja ou em outro lugar dignamente apropriado.  

                  Sem a realização dos ditos sacramentos e das missas exequiais, está proibido pela Igreja o uso do Círio para todo e qualquer ato dinâmico e representativo. Exemplo: utilizar o Círio como adereço em ambientação de encontros formativos, reuniões, assembleias, etc, mesmo que seja para proporcionar uma reflexão!, Utilizar o Círio para ladear o Ambão fora do tempo pascal, em festa patronal (para representar Cristo Ressuscitado ali), etc. Pede-se que se utilize outras velas, menos o Círio Pascal.  
            Volto a repetir que o círio é PASCAL. Também Ele não foi feito pra ser usado como vela solitária do altar ou ficar o ano todo ao lado do ambão.

            Durante a permanência do Círio junto ao ambão, não tem necessidade de ladear o mesmo com as velas da procissão do Evangeliário, pois o Círio faz esta substituição magnífica. Não é proibido o uso dessas velas, pois, não há nada escrito que traz essa sanção, mas, utilizamos desse argumento para dar seu devido valor ao signo ali exposto.

            Mesmo estando presente o Círio no presbitério, sobre o altar deve-se colocar as velas:

O altar seja coberto ao menos com uma toalha de cor branca. Sobre ele ou ao seu redor, coloquem-se, em qualquer celebração, ao menos dois castiçais com velas acesas, ou então quatro ou seis,             quando se trata de Missa dominical ou festiva de preceito, ou quando celebrar o Bispo diocesano,             colocam-se seteHaja também sobre o altar ou em torno dele, uma cruz com a imagem do Cristo crucificado. Os castiçais e a cruz, ornada com a imagem do Cristo crucificado, podem ser trazidos na procissão de entrada. Pode-se também colocar sobre o altar o Evangeliário, distinto do livro das outras leituras.(Cf. IGMR 117)

            Muitos podem perguntar que fim deve-se dar ao Círio, caso já estamos neste ano e ainda sobrou o círio do ano passado. Aconselho retirar dele os cravos e deixa-lo consumir-se junto ao Sacrário, pois por falta de vela em nossas paróquias não vamos sofrer. O importante é não deixa-lo jogado por qualquer lugar. O raciocínio é lógico: o respeito a ele nós não devemos somente no tempo da Páscoa. Quer dizer que passando a Páscoa ele perde o valor da benção solene que lhe foi dada? Claro que não! 



O apagar do Círio Pascal





Oficialmente não há um ritual para apagar o Círio Pascal. Assim, traremos aqui as sugestões de Mons.Peter J. Elliott em seu excelente Ceremonies of the Liturgical Year According to the Modern Roman Rite.


Durante a conclusão da última Missa do Domingo de Pentecostes (ou das II Vésperas, onde esta é a última celebração litúrgica do dia), o Círio Pascal é levado ao batistério, perto da pia batismal.

Mons. Peter J. Elliott explica que a transferência do Círio (aceso) ao batistério acontece em procissão – durante o canto final ou antífona ou moteto apropriado –, da seguinte forma:

“Após a despedida, o incenso é preparado e abençoado. O diácono (ou, em sua falta, o celebrante) leva o Círio Pascal, e, precedido pelo turiferário, cruciferário e ceroferários (preferencialmente sem as velas), carrega-o até o batistério, onde é colocado em seu castiçal ou suporte. O celebrante pode incensá-lo com três ductos; então a procissão retorna à sacristia ou sala das vestimentas, como de costume. O Círio deverá ser apagado quando todo o povo tiver saído da igreja.”


Rito para Apagar o Círio Pascal 




Junto ao círio ainda aceso e faz uma breve introdução à liturgia da luz: 

Irmãos e irmãs, na noite na qual se  deu vida ao alegre tempo Pascal, o “dia de cinquenta dias”, no momento de acender o Círio, nós aclamamos a Cristo nossa Luz. E a luz do Círio pascal nos acompanhou nestes cinquenta dias e contribuiu não pouco a nos fazer recordar a grande realidade do Mistério pascal. 
Hoje, no dia de Pentecostes, ao fechar-se o Tempo da Páscoa, o Círio é apagado, este sinal nos é tirado, também porque, educados  na escola pascal do mestre Ressuscitado e cheios do fogo dos dons do Espírito Santo, agora, devemos ser nós, “Luz de Cristo” que se irradia, como uma coluna luminosa que passa no mundo, em meio aos irmãos, para guia-los no êxodo em direção ao céu, à “terra prometida” definitiva.
Veremos agora, no desenrolar do ano litúrgico, resplender a luz do Círio Pascal, sobretudo em dois momentos importantes do caminhar da Igreja: Na primeira Páscoa que viveram os  seus filhos com a recepção do Batismo, e por ocasião da última Páscoa, quando, com a morte, ingressarão na verdadeira vida.  
O cantor dirige-se ao ambão, e de lá canta as invocações a Cristo. 
Cantor: 
Cristo, Luz do mundo! 
Todos:
Demos graças a Deus! 
Sacerdote: 
Cantando, em reto tom estas e as demais invocações. 
Ó Sol da justiça, raio bendito, primeira fonte de luz, o ardentemente desejado, acima de tudo e de todos; poderoso, inescrutável e inefável; alegria do bem, visão da esperança satisfeita, louvado e celeste, Cristo criador, Rei da glória, certeza da vida/, preenche os vazios da nossa voz com a Tua Palavra onipotente, oferecendo-a como súplica agradável ao teu Pai altíssimo/. 
Cantor: 
Cristo, Luz do mundo! 
Todos: 
Demos graças a Deus! 
Sacerdote: 
Esplendor da glória do Pai, que difunde a claridade da verdadeira luz, raio da luz, fonte de todo esplendor/. Tu, dia que ilumina o dia, Tu verdadeiro sol, penetra com a tua luz constante e infunde nos nossos sentidos a chama do teu Espírito/.  
Cantor: 
Cristo, Luz do mundo! 
Todos: 
Demos graças a Deus! 
Sacerdote: 
Sois a lâmpada da casa paterna que ilumina com luz ardente/. Sois o sol da justiça, o dia que jamais escurece, a luminosa estrela da manhã/.  
Cantor:
Cristo, Luz do mundo! 
Todos: 
Demos graças a Deus! 
Sacerdote: 
Sois do mundo o verdadeiro doador da Luz, mais luminoso que o sol pleno, todo luz e dia/, ilumina os profundos sentimentos do nosso coração/. 
Cantor: 
Cristo, Luz do mundo! 
Todos: 
Demos graças a Deus! 
Sacerdote: 
Ó Luz dos meus olhos, doce Senhor, defesa dos meus dias, ilumina Senhor o meu caminho, pois sois a esperança na longa noite/. Ó chama viva da minha vida, ó Deus, minha luz/. 
Cantor:
Cristo, Luz do mundo! 
Todos: 
Demos graças a Deus! 
Coral: Hino Pascal “Cristo Ressuscitou” 


Terminado o Hino Pascal, o Sacerdote faz a inclinação ao Círio Pascal,  e o apaga. Depois, voltado para o povo, canta a oração. 


Digna-Te, ó Cristo, nosso dulcíssimo Salvador, de acender as nossas lâmpadas da fé; que em Teu templo elas refuljam constantemente, alimentadas por Ti, que sois a luz eterna; sejam iluminados os ângulos escuros do nosso espírito e sejam expulsas para longe de nós as trevas do mundo/.
Faz que vejamos, contemplemos, desejemos somente a Ti, que só a Ti amemos, sempre no fervente aguardo de Ti, Que vives e reinas pelos séculos dos séculos/. 
E toda a assembleia aclama, cantando:

Amém! Amém! Amém!
José Wilson Fabrício da Silva, crl


Bibliografia

CERIMONIAL DOS BISPOS, Paulinas, São Paulo, 1988;
INTRODUÇÃO GERAL SOBRE O MISSAL ROMANO, 4ª ed., Paulinas, São Paulo, 2011;
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, São Paulo, Loyola, 1993;

domingo, 6 de abril de 2014

José de Anchieta: vida e milagre

Redação: Maria Clara Bingemer

O canário de ascendência judaico cristã nova José de Anchieta nem imaginava que tantos séculos depois de sua passagem pela terra brasilis seria objeto de tamanha atenção por parte da mídia e subiria aos altares como santo. Era bem jovem quando, em Portugal, sentiu o chamado de Deus e entrou na Companhia de Jesus como irmão.

De saúde frágil, sofrendo de espinhela caída, chegou ao Brasil com 20 anos de idade e recebeu do Padre Manuel da Nóbrega, que aqui já se encontrava, a incumbência de dar prosseguimento à construção do colégio de São Paulo, no planalto de Piratininga, na qual estava empenhado. Foi a partir deste que Anchieta abriu os caminhos para o sertão e com os índios aprendeu a língua tupi.

Das mãos apostólicas de Anchieta floresceu a cidade que hoje é a mais importante do Brasil. O colégio foi o embrião desta. E Anchieta participou ativamente de sua fundação, em 25 de janeiro de 1554. Deste fato dá testemunho uma carta do missionário, onde diz: “A 25 de janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo e por isso a ele dedicamos nossa casa!”

A ação apostólica de Anchieta não consistiu apenas, no entanto, em construir este colégio. É de enorme importância sua atuação junto aos índios, aos quais cuidava não apenas de catequizar como também de defender dos abusos dos colonizadores portugueses, que muitas vezes os brutalizavam, escravizando-os e tomando-lhes as mulheres e filhos.

Hábil interlocutor dos indígenas e mediador de situações espinhosas, Anchieta desempenhou importante papel no preparo do armistício entre os tupinambás de Ubatuba e os tupis, em Iperoig. Intermediou igualmente as negociações entre portugueses e indígenas reunidos na Confederação dos Tamoios, oferecendo-se inclusive como refém dos tamoios, enquanto o Pe. Manuel da Nóbrega retornava a São Vicente para ultimar as negociações de paz.

Além de apóstolo, estrategista e mediador de conflitos, Anchieta também se destacou no campo das letras. Com frequentes viagens ao sertão e a aprendizagem da língua tupi, compôs a primeira gramática desta língua que, na América Portuguesa, foi chamada de “língua geral” e se tornou o principal instrumento de comunicação entre europeus e nativos.

Além disso, era literato e poeta. Compôs peças de teatro na “língua geral”, encantando os índios com a atividade teatral que lhes servia igualmente de aprendizado. Escrevia com perfeição em português, latim e tupi. Foi em latim que compôs suas duas grandes obras: um poema sobre a Virgem Maria com mais de 4 mil versos e uma obra sobre os feitos do governador Mem de Sá. Conta a tradição que o poema sobre a Virgem foi escrito primeiramente nas areias da praia de Iperoig, quando era refém dos índios tamoios, e apenas posteriormente passado para o papel.

Anchieta era devoto de Maria, mãe de Jesus, desde muito jovem. Em meio às durezas e dificuldades da vida missionária do Brasil colônia, certamente essa devoção deve tê-lo ajudado a enfrentar vicissitudes e superar obstáculos. Sintomaticamente o poema à Virgem se dirige à “Stabat Mater”, a Dolorosa, à qual tantas vezes deve ter rezado em sua terra natal, a Mãe das Dores, sofrendo cruelmente pela paixão do Filho. A ela se dirige o apóstolo do Brasil neste poema que se tornou um clássico da literatura nacional e celebrizou seu autor como homem de letras.

Morto em Reritiba, aos 63 anos, Anchieta é uma das chaves de explicação do processo fundacional de nosso país. Sua vida rica e fecunda, sua intensa atividade missionária, educacional, literária, são a pedra fundamental sobre a qual se apoia boa parte do que será a matriz da cultura brasileira.

Por isso, aos que se admiram de o Papa Francisco tê-lo canonizado sem que se tivesse notícia de um segundo milagre realizado por sua intercessão, a resposta é simples. O milagre é a própria vida deste homem, assim como a de todos os santos. Milagre é ser mortal, finito e contingente e, no entanto, deixar-se totalmente impregnar pela graça de Deus. Milagre é deixar para trás todas as possibilidades de futuro e dedicar a vida à missão de fazer crescer o Reino de Deus em terra que não era a sua. Milagre é amar como filhos a homens e mulheres que nem conhecia e dedicar-se a educá-los, com eles conviver na amizade e na proximidade.

E celebrando e agradecendo esse milagre, pedimos: São José de Anchieta, rogai por nós.

Fonte: http://www.domtotal.com.br/

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

O Silêncio

É ruidoso o mundo em que vivemos. Há demasiadas máquinas de fazer barulho: telefone, fax, rádio, TV, veículos, campainhas. Nosso cérebro habitua-se tanto à sonoridade excessiva que custamos a desligá-lo. Uns preferem remédios que façam dormir. Outros, a bebida.

Assusta-nos a hipótese de manter a casa em silêncio. Decretar o jejum de ruídos; desligar rádio, TV e telefone. Isso pode levar ao pânico. A “louca da casa”, a imaginação, entra em rebuliço, supondo que há uma notícia importante a ser ouvida ou um telefonema de urgência a ser recebido. Ou experimenta-se o medo de si mesmo. Sentir-se ameaçado por si mesmo é uma forma de loucura frequente em quem, súbito, vê-se privado de sons exteriores. Como alguém preso no elevador. Não é a claustrofobia que amedronta. É o peso de suportar-se a si mesmo, entregue aos próprios ruídos interiores.

No antigo mundo rural, o silêncio era companheiro. Não havia meios de comunicação e as distâncias, cobertas a pé, a cavalo ou de charrete, faziam do viajante solitário cúmplice do silêncio emanado da paisagem. A fé evocava a presença invisível de Deus, santos ou fantasmas.

O silêncio é a medida do amor. Só quem se ama sabe curtir o silêncio a dois. O silêncio queima quando há muito o que falar atravessado na garganta. Se a presença do outro incomoda, o silêncio pesa toneladas. E, na falta de diálogo, corre-se o risco de explosão. É qual uma represa prestes a romper o dique e afogar quem se encontra pela frente. De repente, a emoção reprimida arrebenta e, em volta, chovem, em estilhaços, o respeito, a cortesia, a honra própria e a alheia. As palavras multiplicam-se, sôfregas, na tentativa de aliviar a tensão.

Os monges nutrem-se de silêncio. O monge vem de monachós, solitário. Nos mosteiros e conventos aprendemos a gostar da solidão, ouvir a voz interior, estar só para sentir-nos intimamente acompanhados, tapar os ouvidos para escutar e auscultar Aquele que faz em nós Sua morada. Enfim, fechar os olhos para ver melhor.

Os índios tribalizados sabem fazer silêncio. Como os monges, valorizam as palavras. Assim são também os orientais, comedidos em suas expressões. Já os ocidentais são parladores, falam muito e dizem pouco.

No Evangelho, Jesus recomenda não multiplicarmos as palavras na oração. O Pai sabe de que necessitamos. Todavia, somos desatentos ao conselho. No Ocidente, falamos de Deus, a Deus, sobre Deus. Quase nunca deixamos Deus falar em nós. Agimos como aquela tia que liga para minha mãe: fala tanto, que nem se dá conta de que mamãe larga o fone, vai à cozinha mexer a panela e retorna.

O silêncio constrange quem não sabe acolhê-lo. Imagine uma refeição na qual, de repente, todos se calam em torno da mesa. No entanto, outrora os monges comiam calados. A única voz era a do leitor, que cuidava de nos alimentar o espírito enquanto nutríamos o corpo.

A meditação é a escola do silêncio. Como a nossa cultura é avessa a essa prática, tememos fazer calar as vozes exteriores e interiores. Quem medita sabe mergulhar no silêncio e enxergar o que não se pode ver à superfície.

Há pessoas tão densas de silêncio que, sem nada dizer, bradam alto. O silêncio do sábio é eloquente, como o do santo é desafiador. Ao se calarem, excluem-se da competição verborrágica. Por isso, sobrepõem-se aos demais. Guardam para si as pérolas que os outros atiram aos porcos.

Quem muito se explica, muito se complica, pois teme a própria singularidade.

É terrível o espectro de uma parcela dessa geração que se nutre de ruídos desconexos. Comunica-se por um código ilógico; balbucia letras musicais sem sentido; entope de sons os ouvidos, na ânsia de preencher o vazio do coração. São seres transcendentes, porém cegos. Trafegam por veredas perdidas, sem consciência de que procuram fora o que só pode ser encontrado dentro.

O silêncio não é quebrado apenas pelos ruídos, mas também por símbolos, logotipos, outdoors, linhas arquitetônicas de mau gosto. A poluição visual desgasta o espírito. A cidade encobre sua beleza com a propaganda que sujeita o olhar à solicitação incessante.

Quem cala, consente? O sábio, “com sente”. Capta melhor o drama ou a alegria alheia. Compaixão. Qual um radar, não emite sons e, no entanto, apreende o que se passa em volta.

O índex do totalitarismo do consenso neoliberal decreta, hoje, o silêncio dos conceitos altruístas. Grita-se competitividade, concorrência, “performance”, disputa, privatização… Cala-se solidariedade, cooperação, doação, partilha, socialização. Edifica-se a barbárie em nome de uma civilização prometeica, na qual muitos são os excluídos e poucos os escolhidos.

Saber calar, saber falar; é alcançar a sabedoria. Só quem conhece a beleza do silêncio, dentro e fora de si, é capaz de viajar por seu próprio mundo interior pacote impossível de ser encontrado em agências de turismo. Trata-se de uma exclusividade das tradições religiosas milenares.

Frei Betto

fonte: http://www.msc.com.br/santuariodasalmas

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sábado, 8 de março de 2014

São João de Deus, rogai por nós

João de Deus nasceu em 1945 na vila notável de  Montemor-o-Novo, Portugal. Cresceu num lar cristão, porém aos oito anos de idade um fato marcante ocorreu em sua vida. Seus pais deram hospitalidade a um "clérigo" e no dia seguinte, João seguiu com o clérigo em direção ao país vizinho, deixando para trás seus pais. Esta estranha "fuga" até hoje ninguém conseguiu explicar de forma satisfatória.
João de Deus foi acolhido por uma família em Oropesa e na sua adolescência dedicou-se a guardar rebanhos. Devido ser um trabalho muito vulgar no seu tempo sonhava em irromper horizontes novos e por isso decidiu seguir a carreira militar. Na vida militar também não obteve êxito e o primeiro fato foi quando ofereceu-se para ir buscar provisões para as tropas do seu destacamento "montou numa égua que tinha tomado dos inimigos" e como, não levava freio a égua disparou em galope e o derrubou deixando gravemente ferido. Mesmo ferido conseguiu retornar ao acampamento,depois desse episódio quase foi condenado a forca por ter perdido os despojos de guerra que deixou roubar. Foi expulso, ficando na miséria total.
Silenciando-se por nove anos João voltou aos exércitos e foi combater os Turcos. Quando retornou do combate ao desembarcar em La Coruña  lembrou-se de seus pais e foi procurar notícías sobre eles. Quando descobriu que estavam mortos, mais uma vez João de Deus sentiu a experiencia do vazio.
Depois disso foi para Sevilha e lá voltou a vida de pastor, mas não era aquilo que queria por isso influenciado por um nobre fidalgo partiu com ele e sua  família para Celta e trabalhou na construção de uma muralha, mas o nobre fidalgo  caiu em dificuldade e João trabalhava na muralha e doava seu salário para sustentar o fidalgo e sua família. 
Depois de uma crise espiritual  profunda  vai para Gibraltar sob conselho de um frade. Lá estabiliza-se tornando-se vendedor ambulante de livros. Quando arranjou dinheiro suficiente partiu para Granada na intenção de tornar fixo seu negócio.
Lá a sua vida dá uma guinada total. No dia da Festa de S. Sebastião, foi à santa missa e ao ouvir o Sermão do Mestre João Ávila percebeu que ali o Senhor esperava por ele.
Acabado o sermão, saiu dali como que  fora de si, suplicando, em alta voz a misericórdia de Deus. Desfez de todos os seus bens, e foi viver despojado de tudo para assim seguir a Cristo. 
Muitas pessoas viram nessa atitude de João um ato de loucura a ponto de interná-lo no Hospital Real como louco, este hospital mantinha esse tipo de internação. Más é lá no hospital que vive na sua carne o desprezo e o sofrirmento daqueles que estavam internado pela loucura.
"Vendo castigar os doentes que estavam loucos, a viver, com ele, dizia "Jesus Cristo me conceda tempo e me dê a graça de eu ter um hospital, onde possa recolher os pobres desamparados e faltos de juízo, e servi-los como desejo"
Ao sair de lá começou a recolher os doentes na rua, transportava-os nas costas, e com ajuda de algumas pessoas alugou uma casa. A graça de tornar realidade o seu propósito de ter um Hospital começava a ser concedida por Jesus. 
Para João de Deus, o hospital é um lugar sagrado, uma casa de Deus. E para seguir no seu propósito sentiu mais uma vez o peso do esvaziamento devido as dívidas que fora contraída para construção do hospital e tratamento dos doentes.
"Estou tão empenhado em tanta necessidade que nem sei o que fazer... Vendo-me tão empenhado que muitas vezes nem saio de casa pelas dívidas que tenho"
Pouco antes de morrer o Arcebispo de Granada que muito o protegia, visitou-o e Celebrou Missa nos seus aposentos e administrou-lhe o Sacramento dos Enfermos.
João procurou deixar tudo em ordem e por isso deixou como seu sucessor Antonio Martin e no dia 08 de março de 1550, com o crucifixo nas mãos morreu abraçado à cruz redentora.
Em 16 de outubro de 1690 foi canonizado e em 27 de maio de 1886 o papa Leão XIII proclamou-o patrono dos hospitais e enfermos e em 28 de agosto de 1930 o papa Pio XI o proclamou patrono dos enfermeiros.
João de Deus percorreu um caminho espiritual que começou pela dureza do despojamento indo até a loucura que o contagiou com o amor de Cristo, na qual imitando o Mestre, chegou a uma identificação mística com os mais pobres, assumindo o seu opróbrio e as sua dividas até a morte.

Fonte:
- São João de Deus: Imagens da sua vida e ressonâncias da sua Obra, texto de Nuno Ferreira Filipe           - Cartas de S. João de Deus e síntese da sua vida, texto de Moreira Andrade.

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domingo, 2 de março de 2014

EVITAR EXAGEROS NA LEITURA BÍBLICA

Autor: Frei Gilberto Siqueira Alves, OFMCap.©

biblia
A Bíblia é a “Carta” de amor por excelência que Deus manifestou para a humanidade. Foi escrita por muitos autores que partiram da mesma fé, ou seja, muitas experiências bem peculiares relatadas em cada conjunto de livros: Pentateuco, Livros Históricos, Livros Sapienciais, Livros Proféticos, Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Cartas Paulinas, Epístolas Católicas e o Livro do Apocalipse.

Temos aí o conjunto do Primeiro e Segundo Testamento. São situações permeadas e registradas à luz do Espírito Santo. Ao ser conservada a história do povo de Deus para nossos dias percebemos que também nós somos chamados à superação de tantas dificuldades que enfrentamos em nosso cotidiano. Mesmo que sejam muitas as provações Deus caminha conosco. Isso é fato! A Revelação de Deus à humanidade foi transmitida e registrada na Bíblia em dois estágios diferentes e complementares: Tradição oral e escrita. Tais experiências salvíficas não eram para ficar em um único período da história.Quando meditamos a Palavra de Deus nos transportamos para a situação vivida pela comunidade e nos indagamos acerca da mensagem que anima e estimula as pessoas. Rezar com a Bíblia é um dos presentes que devemos dar ao nosso coração. Como já dizia Santo Agostinho: “Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”.[1]
É claro que esse processo de memória e escrita foi realizado na parceria de Deus com a humanidade. Por isso que chamamos história da salvação, dirigida a todos nós seus filhos e filhas, muitas vezes ingratos e insensíveis.
A prudente mediação divina nos orienta: quando lemos algo devemos estabelecer critérios para um melhor desempenho e assimilação do que nos é fornecido no texto e sua aplicação na nossa história. No campo religioso é de bom tom atitudes de oração, ruminação e assimilação das inquietações propostas no texto sagrado, sempre guardadas as devidas proporções. A partir dessas perspectivas vemos que quando a Palavra de Deus vem ao nosso encontro não cabe a nós guardá-la, mas socializar as benesses advindas de tão providencial gesto amoroso de Deus que nos quer cônscios de sua vontade e plenos de seu amor.
Estamos situados em uma determinada comunidade de fé. Para facilitar elencamos algumas modalidades de leituras a serem evitadas para não tirarmos a originalidade do texto sagrado, com suas respectivas intuições existenciais e pastorais para os dias de hoje.
1 - Leitura Fundamentalista: o texto genuinamente como se apresenta, literal
  • Só na Bíblia existe a ação única de Deus e pronto
  • Só nela existe o conjunto de verdades sobre Deus
  • De cunho anti-histórico, ou seja, tomado ao pé da letra sem a situação atual do seu contexto. Quando se fecha aos sinais de Deus no cotidiano. Se mostra anti-ecumênica.
Atitudes: alimenta o autoritarismo, cria clima sectário, fechamento e intolerância religiosa: Mt 12,46-50; Mt 13,53-58.
2 - Leitura Doutrinarista: o texto usado para justificar normas religiosas
  • Busca de doutrinas religiosas que eu preciso saber para me salvar
  • Imagem de Deus racional, regulador, alguém impositivo
  • Exacerbada preocupação em saber o que é a doutrina
  • Primeiramente a “doutrina” e depois a vida humana
Atitudes: a Bíblia se torna elemento de salvação de um grupo apenas, zelo exagerado pelas normas religiosas,esse tipo de mentalidade pode gerar hipocrisia e de certeza única: Lc 6,1-5; Jo 8,57-59; (Jo 10,22-39).

3 - Leitura Moralista: o texto para fins de julgamentos externos
Visão reducionista da realidade: boa ou má
A Bíblia como manual de conduta religiosa que todos os cristãos devem observar para não se condenarem
Atitudes: a imagem de Deus é como alguém: rígido, castigador, fiscal. Condenar / salvar. Isso gera deturpação dos valores: Lc 5,27-32; Mt 9,9-13; (Mc 3,1-5).

4 - Leitura Intimista: o texto exclusivamente à luz de minha experiência “mística”
  • Prevalecimento exagerado do sentimento pessoal
  • Vontade direcionada através do seA catequese católicantimentalismo sem senso de razoabilidade
Atitudes: minha imagem de Deus é triunfalista, light, sou o centro do amor de Deus,visão única e pessoal de Deus. “Ele me revelou…” Mt 17,4.

5 – Leitura Academicista: Justificar conhecimento intelectual ou defender racionalmente um ou vários pontos de vista que me agrada
  • A Bíblia como fonte de conhecimento intelectual apenas
  • Racionalização do religioso em detrimento do espiritual
  • Tirar dúvidas e satisfazer curiosidade intelectual para justificar algo
Atitudes: limites sérios para atualizar a Palavra de Deus, Bíblia como elemento prático, objetivo, mentalidade subjetiva ou conceitual da realidade: Mt 11,25-26.

PERGUNTAS PARA MEDITAÇÃO PESSOAL:
Minhas leituras bíblicas são condicionadas por alguma dessas maneiras?
A meditação nos faz colocar a caminho do que Deus pede de nós. Conseguimos fazer essa meditação diária?

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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Semana catequética 2014 - Tema: Igreja: casa de iniciação à vida cristã - 17 à 21 de fevereiro

Nesta semana inicio-se a Semana catequética na Região Episcopal Belém - Arquidiocese de São Paulo.
A Semana está organizada por grupos de setores conforme abaixo:
Encontro para Catequistas dos Setores Conquista, São Mateus e Sapopemba dias 17 e 18/02/2014 na Paróquia São Mateus Apóstolo e o encontro para os catequistas dos setores, Belém, Guarani, Antonieta, Tatuapé, Carrão-Formosa, Vila Alpina e Vila Prudente no Centro Pastoral São José.
No dia 21/02/2014 os dois grupos se encontrarão no Centro Pastoral São José para o encerramento da Semana Catequética. Todos os encontros estão sendo realizado nos horários das 19:30 às 21:30.
O tema "Igreja: casa de iniciação à vida cristã" que está sendo trabalhado nesta semana catequética segue a segunda urgência do 11º Plano Pastoral da Arquidiocese de São Paulo.
Há a necessidade de desenvolver em nossas comunidades, um processo de iniciação a vida cristã que conduza a um encontro pessoal cada vez mais profundo com Jesus Cristo.
Para auxiliar nesse caminho, a Equipe de animação bíblico-catequético da Arquidiocese de São Paulo elaborou um subsídio que recorda os fundamentos básicos da iniciação à vida cristã, em seus conteúdos e metodologia e indicando diretrizes pastorais para sua implementação.
Para você ter em mãos este subsídio clique aqui.

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domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Palavra de Deus, fonte da catequese

Nós brasileiros temos o grande orgulho de ter em nosso território grande parte do Rio Amazonas. Quem já navegou nas águas do Rio Amazonas teve a oportunidade de conhecer uma das regiões de maior biodiversidade do planeta. E a grandeza desse rio não para por aí,  também é o maior rio do planeta em volume de água, representando 20% de toda a água doce do Planeta. Em 2007 ganhou o título de maior rio do mundo em extensão, com quase 7000 km e ainda chega a 100 m de profundidade e sua  foz possui a largura de aproximadamente 274 km.
Poderia dizer muito mais sobre o  rio Amazonas, creio que para isso seria melhor um livro, mas a minha intenção é chamar a atenção no fato de que a grandiosidade  do Rio Amazonas tem uma origem, uma fonte, que no seu caso está localizado nos Andes Peruanos.
Veja! De uma pequena fonte nas montanhas peruanas o Rio Amazonas transforma-se em um volume de água tão grande que corresponde à quinta parte da água jogada no mar por todos os rios do mundo. De sua pequena fonte é gerado Água viva, que leva vida ao planeta inteiro. Podemos dizer que é uma fonte que nunca se seca, e isso me faz lembrar do Evangelho em que Jesus se encontra com a Samaritana e que na primeira parte do diálogo entre eles tem como pano de fundo a água,  dando conotação ao Espírito Santo  que Cristo nos envia que  sempre gera vida e que sacia a sede humana a vida toda, é este Espírito fonte de vida que também  torna o homem fonte de água viva jorrando até a vida eterna (Jo 4,14). 
Jesus que se revela à samaritana como aquele que sacia a sede para sempre e logo em seguida mostra-se como o Messias esperado por ela, torna-a fonte de anúncio de sua Palavra, a qual muitos samaritanos por meio dela creram nele (Jo 4, 39). Pela anúncio da Samaritana despertou a fé  em Jesus nos samaritanos, hoje, o anúncio de Jesus se faz por meio da Palavra de Deus, ou seja, através da leitura da Bíblia, pois é na Palavra que Cristo se revela como Salvador, por isso a fonte na qual a Catequese busca sua mensagem é a Palavra de Deus (DNC 106).
A Catequese tem como tarefa  proporcionar a todos o entendimento claro e profundo  de tudo  o que Deus quis nos transmitir (DNC 26) mas este serviço só acontece quando o Catequista mantém contato íntimo com as Escrituras, mediante leitura assídua quer seja através da Sagrada Liturgia, pelo estudo apurado ou pela leitura espiritual (DV 25).
A Leitura espiritual ou leitura orante é uma das formas mais valiosas de vivenciar a Palavra de Deus seja no âmbito pessoal ou comunitário. A Leitura orante nos é apresentada em diversos modos mas, mais ou menos, todos eles apresentam o mesmo desenvolvimento nos quatro momentos: leitura, meditação, oração e contemplação. A leitura orante da Bíblia alimenta nas pessoas a escuta atenta à Palavra e o diálogo filial com o Pai (DNC 111). 
Mas para que não haja o risco de a leitura orante tornar-se uma abordagem individualista, mesmo sendo a Palavra dirigida a cada um pessoalmente , é também uma Palavra que constrói comunidade, que constrói a Igreja, por isso é muito importante a leitura comunitária (VD 87).
Por isso a Catequese precisa assumir essa forma inestimável de experimentar o amor de Deus por meio da sua Palavra, perpassando pela experiência vivida pelo catequista e tornando presente na vida dos catequizandos.
Mas, como fazer a leitura orante?
Segue algumas dicas que poderão ajudar-nos na vivência de uma leitura espiritual da Palavra de Deus.

LEITURA
1 - Escolher o texto ( podemos utilizar a leitura do dia como reflexão).
2 - Rezar ou cantar, pedindo a luz do Espírito Santo.
3 - Ler e reler o texto.

MEDITAÇÃO
4 - Analisar o texto e situá-lo em seu contexto de origem. Como Deus se revelou ao povo: personagens, lugar, quando e como Deus aparece no Texto.
5 - O sentido do texto para nós: ligar a Bíblia e a vida. Analisar o texto para hoje ( em silêncio, abrir-se ao Espírito Santo e deixar que Ele nos fale. O que Ele quer de nós).

ORAÇÃO
6- Rezar o texto: o que o texto nos leva a dizer a Deus, ou seja, interiorizar o texto e falar com o próprio Deus (escuta, agradecimento, súplica)

CONTEMPLAÇÃO
7- Contemplar é comprometer-se: é olhar a realidade com os olhos de Deus. Senti-lo com o coração de Deus e assumir um compromisso diante da realidade. Prestar atenção ao mistério e ver qual versículo mais tocou ( memorizá-lo ou escrevê-lo).

Veja, que a Leitura orante além de tornarmos íntimos de Deus, aproxima a catequese da liturgia, evitando, que sejam realidades diferentes, desta maneira bebemos do amor de Deus cuja a fonte é Jesus e que pela ação do Espírito dispensado por Ele nos tornamos fontes jorradoras do seu amor sempre crescendo e evoluindo como um grande rio.

Siglas
DNC -Diretório Nacional de Catequese/CNBB
DV - Dei Verbum
VD - Verbum Domini

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