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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O significado do termo ecumênico (2ª parte)

A palavra ecumênico vem do termo grego oikoumene que significa mundo habitado, porém, no processo histórico a palavra vai sofrendo transformações no seu significado.
Este termo começa a ser usado no final do século IV a.C., e o primeiro conceito está relacionado ao sentido geográfico referindo-se a todo mundo helenizado, ou seja, todo território conquistado por Alexandre Magno era a oikoumene[1].

Mas logo o sentido da palavra começa a ser usado para designar o homem helenizado, isto é, devido as conquistas de Alexandre abarcar diversas culturas surge a necessidade de dar unidade ao império grego, é neste contexto que  nasce ideal do homem helênico, dando origem a oposição entre o homem helênico considerado culto, civilizado ao bárbaro tido como o ignorante, desta forma o ignorante estava além das fronteiras da oikoumene, é deste contexto que resulta o sentido cultural da palavra[2].
Com a queda do Império grego os Romanos começaram a expandir seus territórios e impor sua forma de governar  sobre as terras conquistadas, a partir daí o termo oikoumene adquiri um sentido político complementando o significado do termo usado pelos gregos.
No século IV d.C., a palavra oikoumene é introduzida na literatura eclesiástica, o Concílio de Constantinopla (381 d. C.) refere-se ao Concílio de Nicéia (325 D.C.) como concílio ecumênico, e a partir deste momento a palavra passa designar as doutrinas da Igreja dotadas de validade universal, é nesse sentido que o termo adquire sentido eclesiástico.
A dimensão religiosa do termo vai surgir no século XVII d.C., após a Reforma Protestante. Os conflitos entre os cristãos protestantes e católicos causavam terror devido a grande violência, diante de tal situação, no desejo de buscar uma iniciativa para a solução destes conflitos o matemático e físico luterano João Guilherme Leibniz mantém contato por cartas com Bossuet, bispo de Meaux na França e foi através destas correspondências que a palavra ecumênico adquiriu dimensão religiosa apontando para a universalidade da Igreja de Cristo, um só Senhor e um só rebanho[3].
Após a análise do significado da palavra ecumênico é pertinente saber que a origem do movimento ecumênico é protestante, depois  terá a participação das Igrejas Ortodoxas e após o Concílio Vaticano II contará com a colaboração da Igreja Católica Romana.
O movimento Ecumênico surge em meados do século XIX, em torno de três eixos vitais da vivência cristã: a missão, a ação e a doutrina. Essas realidades tendem a unificação dos missionários cristãos protestantes.
O movimento vai começar em forma de conferências e para manter a continuidade e assegurar as decisões das conferências surgem às comissões[4].
A conferência de 1900 em Nova York intitulou-se ecumênica devido seus membros buscarem uma evangelização que visava alcançar o mundo todo.       
Esta conferência vai ser o  ponta pé inicial para a conferência de Edimburgo em 1910, onde foram trabalhados temas como Evangelho no mundo, mensagem missionária e religiões não cristãs. Em Edimburgo o termo ecumênico não foi utilizado pelo fato de haver somente protestantes.
Também não houve  a participação  dos protestantes latino-americanos na conferência de Edimburgo devido seus promotores acharem que a America latina já estava evangelizada pelos católicos, isso contrariou os missionários latinos e em reação a esta conferência em 1916 realizaram um Congresso Missionário no Panamá.
A conferência de Edimburgo resulta no Conselho Missionário Internacional criado em 1921 e a partir daí surgi diversas conferências com a mesma temática da Missão e Unidade[5].
Em 1920 depois da 6ª Conferência de Lambeth, os anglicanos reformulam o artigo quatro, relacionado ao episcopado histórico para a aceitação das Igrejas não episcopais, isso porque os Anglicanos tinham uma atenção particular sobre a doutrina de base comum.
Os ortodoxos no início do século XX entre os anos 1902 e 1904 vão mostrar-se interessados no movimento ecumênico protestante e o Patriarca de Constantinopla se mostra a favor de  uma colaboração com as Igrejas não ortodoxas.
Em 1920, o Patriarcado de Constantinopla propõe uma “Liga das Igrejas”. Esse desejo de unidade manifestado pelos ortodoxos foi vital para passarem a participar das diferentes atividades com os cristãos não ortodoxos e resultou  em 1961 na participação como membros da CMI.[6].
Com o fim da II Guerra mundial, o mundo vivia um pós-guerra, a vida social e econômica estava dilacerada, por isso, a ação conjunta dos cristãos para a solução desses problemas era essencial.
Em 1948 diversos movimentos unem-se  e formam o Conselho Mundial das Igrejas (CMI), esta decisão se deu na conferência de Amsterdam (Holanda). Nesta conferência estavam presentes 147 Igrejas Protestantes, Anglicanas e Ortodoxas que aceitaram se reunir sob a seguinte base comum: “O Conselho Mundial das Igrejas é uma associação fraterna de Igrejas que aceitam nosso Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador[7].
Até esse momento a Igreja Católica se mantém afastada oficialmente, mas em 1949 com o documento Santo Ofício intitulado Ecclesia Sancta, demonstra o desejo de mudança. Nesse documento a Igreja Católica reconhece os esforços ecumênicos das demais Igrejas. A grande mudança estava ainda por vir, com o Papa João XXIII[8].



[1] TEIXEIRA, Faustino; MOTA DIAS, Zwinglio; Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso; Aparecida, SP: Editora Santuário, 2008. p 23.
[2] Ibid. p. 25
[3] Ibid. p.27.
[4] Ibid, p.28.
[5] TEIXEIRA, Faustino; MOTA DIAS, Zwinglio; Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso; Aparecida, SP: Editora Santuário, 2008. p. 29.
[6] Ibid, p. 33.
[7] Ibid, p. 36.

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