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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A economia transformou tudo em mercadoria

A dinâmica específica do modo de produção capitalista, em sua íntima relação com a economia, centrada numa visão egoísta (pois privilegia a acumulação individual) e antropocêntrica, (pois coloca o homem como senhor de tudo, inclusive capaz de sobrepujar até mesmo às leis da natureza), produziu um tipo de crescimento econômico dilapidador dos sistemas ecológicos da Terra, da biodiversidade, agressor em potencial dos principais serviços ecossistêmicos (água limpa, ar puro, regulação do clima, polinização das flores, semeação do solo, fotossíntese etc).
O que poderia ser um crescimento agregador, não fosse à voracidade mercadológica, consubstanciou-se num tipo de economia que, via sistema de preços, transformou absolutamente tudo em mercadoria (incluindo o tráfico de pessoas e de órgãos humanos).

Na tentativa de consolidar esse “modo de produzir”, resultou um intenso foco de tensão entre o sistema econômico e sistema ecológico.
Para validar a ordem que emana do mercado de consumo, recomendando políticas de crescimento econômico exponencial, preservar o meio ambiente e a biota (conjunto de seres animais e vegetais de uma região) ficou relegado a uma condição de pouca relevância.
Tudo isso resultou um planeta doente, uma Terra cansada, uma economia socialmente desequilibrada, um retrato ecológico expresso na morte de espécies (uma espécie desaparece por dia), uma economia dilapidada do ponto de vista social com taxas de pobreza e miséria crônicas.
Se a tentativa - via crescimento econômico - era a de melhorar o mundo, o que resultou foi uma piora acentuada do espaço que habitamos: lixo radioativo, chuva ácida, poluição urbana, maré vermelha, excesso de dióxido de carbono (a cada minuto, 10 mil toneladas são lançadas na atmosfera) são alguns dos “elementos” de nosso atual convívio.
O “homem-econômico”, para ter sua sede de consumo saciada, estreitou relações com a natureza e se entregou abertamente ao modo de consumo vigente nas economias avançadas.
Com isso tudo, não se deu conta que ao “alimentar” esse superconsumo abastecido por uma superprodução de mercadorias artificiais (na maioria das vezes fúteis) somente contribuiu para arrebentar com os mais elementares serviços ecossistêmicos.

Por isso, Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, disse durante o Fórum Econômico Mundial em Davos (2011), que esse modelo é um verdadeiro “pacto de suicídio global”.

De fato, estamos todos propensos a esse “suicídio global” uma vez que, dentro da espaçonave Terra, somos todos pilotos e passageiros ao mesmo tempo, já que estamos “inseridos” na natureza.
Leonardo Boff, a esse respeito, assevera que “no universo e na natureza, em todas as circunstâncias, tudo tem a ver com tudo, afinal, somos todos feitos do mesmo pó cósmico que se originou com a explosão das grandes estrelas vermelhas”.
Da terra tiramos nosso sustento e à terra devolvemos dejetos do processo produtivo (resíduo, poluição, matéria dissipada). É assim que age o sistema econômico: usa e explora os limitados recursos naturais (input) e devolve lixo (output) à natureza.
Quanto mais crescimento (econômico), maior é a agressão (ecológica). Assim, aumenta a tensão entre essas correntes – economia/ecologia.
Esse processo é tão agressivo que, de acordo com estudos recentes, 60% dos serviços ecossistêmicos estão degradados. Por isso crescer economicamente é sinônimo de poluir assoberbadamente.
Dito de outra maneira: produzir é também sinônimo de destruir. Não por acaso, a etimologia da palavra “consumir” (a razão de ser do processo produtivo) significa “destruir”.
Lamentavelmente, as economias modernas têm aperfeiçoado os mecanismos dessa destruição, esgotando em várias frentes o patrimônio natural (biomassa das florestas, solo arável, disponibilidade de água etc).
Na Carta da Terra, um dos mais importantes e sérios documentos elaborados pela inteligência humana, lê-se que “os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando”.
No visor do relógio econômico, os ponteiros marcam um crescimento destruidor da natureza. O momento exige uma só saída: abandonar definitivamente esse modelo econômico que transformou tudo em mercadoria.

Redação de Marcus Eduardo de Oliveira que é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

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