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sábado, 4 de janeiro de 2014

Catequese que educa para o diálogo

Este é um texto de Therezinha M. L. da Cruz, autora de diversos livros na área de ensino religioso e catequese, a qual  chama atenção para o diálogo ecumênico como processo educativo a ser desenvolvido na catequese. É um ótimo texto que nos faz refletir sobre essa realidade tão esquecida na catequese.

A Igreja tem insistido na ideia de pastoral de conjunto. Ser Igreja é ser comunidade. O "eu creio" não é vivido de modo isolado em relação ao "nós cremos". Dentro da comunidade há sensibilidades, diferentes, talentos específicos, preferências por modos de viver a espiritualidade de acordo com as necessidades e estilos de cada um. Tudo isso precisa ser desenvolvido num processo que saiba articular diversidade e unidade e desta forma estaremos unidos na adesão a Jesus, na ação de promoção dos valores do Reino, na colaboração mútua que vai fazer a comunidade uma visível família fraterna.
Dentro dessa unidade devemos ser preparados para valorizar a diversidade e possibilitar a partilha de talentos e experiências que enriquecem nossa visão do compromisso cristão. É um péssimo testemunho não saber ouvir o diferente e tentar enquadrar todos e todas numa forma estreita que não permita que cada um seja conhecido e estimado na sua individualidade.
Por tudo isso, a catequese tem que ter como método de trabalho, entre outras coisas, a espiritualidade do diálogo. A Igreja insiste na ideia de diálogo especialmente nos textos onde se fala de missão, ecumenismo e diálogo inter-religioso. É fácil perceber como esses campos precisam de pessoas capazes de ouvir o outro, de reconhecer qualidades que não costumam ser suas, de dar e receber no convívio com o diferente.
Em 1998, uma comissão formada por católicos e evangélicos, numa ação do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil), produziu uma cartilha com o título Diversidade e comunhão um convite ao ecumenismo. A cartilha apresenta a espiritualidade do diálogo como instrumento gratificante para construir com alegria um mundo melhor. O texto diz: "bem-aventuradas as pessoas que cultivam as qualidades necessárias à vida cristã ecumênica". E essas qualidades são todas relacionadas à capacidade de entrar em diálogo sincero, não manipulador, com o outro: " Entre elas estão: o respeito ao direito alheio, a paciência, a humildade na busca da verdade, a caridade fraterna, a lealdade, o espírito de serviço, o amor prioritário aos valores do Reino, a solidariedade, o espírito de oração, o entusiasmo pela paz, a capacidade de discernir o bem onde quer que ele se encontre, a ternura pelos irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai. Agora imagine uma pessoa com todas essas qualidades. Será eficiente na vida cristã ecumênica, mas será também, por acréscimo, um ser humano melhor em todos os sentidos."
O que a cartilha aplica ao ecumenismo vale, portanto, para todas as áreas da vida humana, mesmo fora da Igreja. Uma verdadeira capacidade para o diálogo enriquece a vida na família, na vizinhança, no local de trabalho, na comunidade e na sociedade em geral. Fica difícil construir um mundo novo e fraterno, sem capacidade para ouvir e valorizar o outro, com discernimento, é claro, mas principalmente com abertura para partilha, com respeito e com uma sincera valorização do diferente como alguém amado por Deus.
A catequese é o grande processo de formação. Ela não é apenas ensino de doutrinas, ela é um chamado para que cada um valorize seus dons e os dons de outros, porque todos nós somos obras de um grande artista. Jesus sabia ouvir, entrava em diálogo e com isso fazia as pessoas terem vontade de ser sempre melhores. Seguindo o Mestre, ouvindo e sendo ouvidos, descobriremos a grande alegria de ter sempre mais parceiros, amigos, colaboradores na construção de um mundo melhor. 

Por Therezinha M. L. Cruz


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